quarta-feira, 18 de junho de 2014

O que realmente importa?

Partimos, muitas vezes na esperança de podermos oferecer algo “a quem mais precisa”, a quem, de outra forma, não teria acesso a tais bens ou a tal realidade…

Olhamos para as suas vidas, para aquilo que têm (ou melhor, para aquilo que não têm) e imaginamos quão felizes poderiam ser se…

Mas será assim mesmo?

Dependerá a sua felicidade daquilo que NÓS consideramos ser imprescindível nas NOSSAS vidas?

O que é necessidade para nós também o é na vida do outro?

Aconteceu há dias no Centro Nutricional e fez-nos pensar…

Para dar continuidade aos cuidados das nossas gémeas Anastácia e Madalena chegaram, vindas do mato, uma tia-avó e outra menina de aproximadamente 7 anos. Ao que parece nunca tinham chegado à “cidade” e nas primeiras noites chegaram mesmo a temer a segurança das próprias vidas, imaginando que chegava a hora das histórias escutadas ultrapassarem as fronteiras do seu imaginário e materializarem-se na sua própria pessoa…

É a primeira vez que dormem numa casa de alvenaria, é a primeira vez que a luz da lua ao jantar é substituída pela iluminação existente no Centro Nutricional e quando o cansaço se faz sentir e o corpo pede repouso, já não é esteira que procuram mas a cama que está naqueles que são os seus quartos…

“Que grande oportunidade lhes surgiu de poderem experienciar estas comodidades permitidas apenas àqueles que procuram chegar um pouco mais longe nos estudos…”, pensamos nós…

“Pelo menos, enquanto aqui estiverem, não precisarão de caminhar Km’s para se abastecerem da água necessária às suas rotinas!”.

Para nós, estas seriam razões suficientes para que a sua estadia se prolongasse enquanto assim fosse necessário, mas não tardou para que o desejo de regressarem à sua comunidade fosse maior do que a causa pela qual ali tinham chegado…

E agora?

Agora, naturalmente, imploram ao tio das gémeas (sobre quem cai a responsabilidade legal na cultura macua) que encontre outras cuidadoras que assumam os cuidados.

Afinal, a Felicidade depende de quê? Ou de quem?

E porque gostamos tanto de pensar pelos outros?

Porque não lhes perguntamos primeiro o que procuram, para depois, juntos, trabalharmos nesse sentido?

É assim em Missão… assim o é na nossa vida… porque uma não existe sem a outra…

É assim em África… assim o é no Mundo!


Madalena e Anastácia

2 comentários:

  1. Dá que pensar...Ter a sensibilidade e humildade de perceber o que os outros, na sua individualidade, precisam de verdade é um grande desafio. É O Desafio, diria. Só depois desse passo parece ser possivel ajudar de verdade. Força, continuem!!

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  2. Realmente, vida não passa de um grande constraste entre a nossa percepção da realidade e a perspectiva dos outros. Para estarmos aptos a ajudar temos de aprender a compreender, ou melhor a relativizar a imcompreensão. Podemos não compreender mas aceitamos. Difícil de aplicar, mas é aceitando as opções dos outros que nos podemos concentrar na solução, dando menos espaço ao problema. Muita força para servir nesta vossa Missão. Admiro-vos

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