Partimos, muitas vezes na esperança de podermos oferecer algo “a quem
mais precisa”, a quem, de outra forma, não teria acesso a tais bens ou a tal
realidade…
Olhamos para as suas vidas, para aquilo que têm (ou melhor, para
aquilo que não têm) e imaginamos quão felizes poderiam ser se…
Mas será assim mesmo?
Dependerá a sua felicidade daquilo que NÓS consideramos ser imprescindível
nas NOSSAS vidas?
O que é necessidade para nós também o é na vida do outro?
Aconteceu há dias no Centro Nutricional e fez-nos pensar…
Para dar continuidade aos cuidados das nossas gémeas Anastácia e
Madalena chegaram, vindas do mato, uma tia-avó e outra menina de
aproximadamente 7 anos. Ao que parece nunca tinham chegado à “cidade” e nas
primeiras noites chegaram mesmo a temer a segurança das próprias vidas,
imaginando que chegava a hora das histórias escutadas ultrapassarem as
fronteiras do seu imaginário e materializarem-se na sua própria pessoa…
É a primeira vez que dormem numa casa de alvenaria, é a primeira vez
que a luz da lua ao jantar é substituída pela iluminação existente no Centro Nutricional
e quando o cansaço se faz sentir e o corpo pede repouso, já não é esteira que
procuram mas a cama que está naqueles que são os seus quartos…
“Que grande oportunidade lhes surgiu de poderem experienciar estas
comodidades permitidas apenas àqueles que procuram chegar um pouco mais longe
nos estudos…”, pensamos nós…
“Pelo menos, enquanto aqui estiverem, não precisarão de caminhar Km’s
para se abastecerem da água necessária às suas rotinas!”.
Para nós, estas seriam razões suficientes para que a sua estadia se
prolongasse enquanto assim fosse necessário, mas não tardou para que o desejo
de regressarem à sua comunidade fosse maior do que a causa pela qual ali tinham
chegado…
E agora?
Agora, naturalmente, imploram ao tio das gémeas (sobre quem cai a
responsabilidade legal na cultura macua) que encontre outras cuidadoras que
assumam os cuidados.
Afinal, a Felicidade depende de quê? Ou de quem?
E porque gostamos tanto de pensar pelos outros?
Porque não lhes perguntamos primeiro o que procuram, para depois,
juntos, trabalharmos nesse sentido?
É assim em Missão… assim o é na nossa vida… porque uma não existe sem
a outra…
É assim em África… assim o é no Mundo!
Madalena e Anastácia